quinta-feira, 7 de junho de 2012

Carta ao Desconhecido Principe


E remeto ao medo. Sim, isso tudo é um medo importuno que não consigo se quer segurar dentro de mim. Logo depois que ele chora, as minhas lágrimas caem e escorrem de encontro ao mar. Ela, que me olha tão atentamente, apenas se curva para todas as lágrimas guardar. Lágrimas de um filho não se mistura a imensidão, diz. E meus dedos calejados de tanto dor, agora acariciam o rosto dele com uma delicadeza imensa. O prometido. E as lágrimas dele se misturam ao mar, ela se nega a guardar.
Então vejo você príncipe, vejo você que com tanto poder nas mãos nunca soube o que fazer. Você que soprou no vento esse amor que lhe pertencia, que surtou e partiu ao meio o coração da minha pequena donzela. Mas veja! Veja apenas onde ela veio parar. Esses sãos os braços magrelos do bobo da corte, esses são os cabelos desgrenhados, o sorriso relevantemente tão cheio de dentes tortos e de um nariz tão anormalmente grande, esse é o rosto onde a beleza não se permite conceituar. Veja apenas onde ela veio se acolher.
A solidão é um prato que se come sempre, digo bobo, louco, furtivo. E foi assim que aprendi o valor das tão pequenas coisas. Veja só, você sabe mesmo o que é o amor? Você sabe mesmo o que se chama essa confusão de sentimentos que lhe habita agora, pequeno príncipe? Se você perdeu? Não, não estamos em um jogo. Ela não é um prêmio de consolação. Mas entenda, você o deixou ir como a carta de um baralho que estava ai em sua mão e até que um dia você permitiu que o vento carregasse-o.
Olha onde ele veio desbragar. Nos pés de quem agora dança entre armadilhas.
E tenho pena dos teus conceitos, das tuas loucuras, da tua insanidade. Clamo apenas para que a mãe dos mares acalme teu coração, te entregue um bom presente.  Na verdade, essa é minha ladainha mentirosa. No fundo, te desejo dor, morte, esfacelamento do coração. Mantenho-me nessa linha tênue, mas você vai arrumar um caminho longe do meu. Você vai arrumar uma nova donzela. Acredite, estou clamando por isso. Estou clamando para apenas que seu caminho se desencontre com meu, mas tome cuidado para não desaguar no mar... Ela não gosta de quem tira água dos olhos de seus filhos. 

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Toalhas de mesa rasgadas



Faz um sol tão forte lá fora. Digo, chove lá fora tão bruscamente. Minto, faz uma ventania tão forte. Sinto que é noite e esses são só desejos insanos. Pobre. Pobre criança. O desejo aflito consome cada parte de mim, enquanto sorrio vagamente ao sol. Me pego desejando uma festa grande, copos de plástico, cabra cega, maconha, prostitutas, bebidas e um bom indie rock pra animar as coisas na medida certa. Ver todos assim dançando e sorrindo, cantando e pulando. Apenas sentir lhes a felicidade brotar e queimar em chamas altas e balanceadas. Encantadoras.  
Eles são tão sorridentes. Perguntam a mim : “Você já viu a lua hoje?”, ainda estou em duvida se é dia ou noite. Devo ter bebido um gole dessas misturadas que o chefe fez. E olhe só, o chefe chegou e me abraçou, sorrio e demos voltas no eixo de nossos corpos. Ele sorria pra mim tão claramente. Vestiu sua fantasia, me fez vestir a minha e nos jogamos na piscina sem lembrar que os celulares estavam ainda aqui no bolso. Imbecil. Ele me grita o mesmo xingamento por oras, até me abraçar forte e desejar um beijo. Nego.
A noite parece ter acabado de começar, mas consulto o relógio e novamente já passa das dez da manhã. Grito correndo com a garrafa de vodca pra cima que tá na hora, tá na hora, tá na hora, tá na hora. E eles fazem fila, tomam seus comprimidos, fumam seus cigarros, tapam as bolas, somem sob as mesas. Bad trip o que essa menina, levanta a porra da bunda dessa cadeira e vem dançar. É a última, última, música. Pula, grita, a tua mãe tá chegando ai. Vamos lá eu sei que consegue.
E pisco três ou quatro vezes, parece que todos já se foram. Só sobrou uma mocinha ali. Tão delicada, tão imperfeitinha. O que ela faz mesmo aqui? Nem lembro de tê-la convidado. Sorrio e ela me devora. Sim, ela era uma maquina preparada ao ataque. Sussurrou-me que estava me desejando desde o natal de noventa e três e agora eu não iria escapar. Sob a pele da ovelha havia um leão. E devorou-me a noite inteira. Sem pudor.
Menina má. 

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Devaneios Trancafiados




... e tranquei o coração, com você dentro, joguei a chave fora. Ainda que sair?
E aguardo ansioso na porta, de pé. Sinto o cheiro do incenso que se debate e reluta contra o ar dentro dos aposentos vazios.  Teu ídolo toca na vitrola logo ali no canto da sala. O colchão está jogado na outra parede com lençóis limpos, almofadas novas. E ainda te espero de pé na porta, constando no relógio de bolso que já me atrasou dois minutos e meio. Não sei, mas a impaciência é grande quando os minutos se tornam horas . Isso sempre ocorre quando te espero, os segundos são demasiadamente longos e nossos momentos parecem tão sorrateiramente efêmeros.
Então não te demoras mais que três minutos de atraso, logo trás esse conforto para dentro de mim. Toda essa confusão. Faz-me tomar um gole, dois, das tuas bebidas mais fortes; teus sorrisos, tuas gargalhadas, teu toque, teus olhos que se debruçam sobre os meus e toma o meu folego com uma facilidade incrível. Consome o meu ser inteiro e respiro a tua pele e dela retiro a essência que preservo tão fundo em mim, tão guardado, para que todas as noites o sono seja leve, seja doce. Seja, até mesmo ele, teu.
Todas às vezes quero poder gravar a tua voz, quero poder escutar você me cantando, me retirando do serio, me forçando a rir com tantas crises de ciúmes consecutivas. Olho-te no fundo dos olhos e quero te sugar inteiro, te guarda em um pontinho, te preservar e te ninar todas as noites. Desejo o teu corpo quente desconcertando o meu, tuas provocações que me corroem em desejo.
Então chegas, nesta noite fria, e me olhas. Tanto tempo faz desde nosso ultimo encontro, mas sei exatamente o estado de cada poro da tua pele, dos teus pelos, do teu sorriso. E recosto a cabeça na porta pra poder te olhar. Quanto tempo faz desde que você chegou? Parecem horas, esses minutos que passamos aqui nos olhando. Selas nossos lábios.
Estou em casa.
Tomo as tuas mãos na minha, aconchego o teu corpo ao meu, que como em um encaixe perfeito de quebra-cabeça, se completa ao meu. Risonho, te faço rodar no ar, dançamos atentamente. Desfiz-nos das roupas, dos sapatos, das barbas e do sono. Dançamos e cantamos, você gira e sorri, me faz caretas e logo pinta com nossos corpos as paredes da sala, do quarto, da cozinha e os limpa no banheiro, em um banho demorado de espuma.
Devaneio.
Sorrio, balançando a cabeça vagarosamente. Me pego olhando pela janela os carros passarem na avenida, me pego desejando você de uma forma tão forte que sinto teu cheiro aqui impregnado nas minhas roupas de cama, na caminha camisa bufenta, nos meus dedos. Ainda consigo lembrar de cada momento desde a última vez que você veio me desejar bons sonhos. As paredes ainda estão impregnadas de ti, eu ainda estou. Que forte você, não? Tão impregnado aqui em mim, mesmo depois de tantos dias.
E continuo olhando, sentindo, sorrindo. Teu reflexo no espelho me abraçando, teus carinhos de boa noite, teu ninar e tua voz doce que rompe meus medos, me injeta força. Tão sorrateiramente me invades todas as vezes que me contas sobre teu dia, quando te irritas, quando escuto a mais linda de todas as risadas. E me tomas, me recrutas. Sou teu e apenas.