sexta-feira, 30 de março de 2012


Born to Die


E não sei onde colocar meu dedos quando você vai chegando perto. A vontade é de encaixa-los exatamente na curva da tua cintura ou na do pescoço, alisar as tuas costas e fazer estes teus olhos debruçarem sobre os meus descobrindo meus mais insanos segredos. Enquanto você vai chegando e o seu perfume me inundando vou perdendo a postura e a pouca compostura que me resta. Tu, que me embaças, não entendes esse efeito dos teus olhos sobre os meus. Olhos estes tão traiçoeiros que me condenam aos teus encatos, que me condena a este teu lábio, que confesso, é tão aclamado pelos meus. E não só sonho com teu corpo sendo nosso, sonho com a tua camisa grande me cobrindo numa noite fria, com teu sussurro ao pé do meu ouvido. Nossas brigas, tuas birras, nosso sorriso e silêncio também são imaginadas. Vou assim, desejando teu abraço e o conforto que me afundo. Tudo antes de você vir e então destruir os planos que tão bem foram calculados. E não sei por onde caminhar, mal penso no que falar. E sorrateiramente nunca serei desejo e eterno teu. Querido.

segunda-feira, 26 de março de 2012





"Você vai me abandonar - repetiu sem som, a boca movendo-se muito perto do fone -e eu nada posso fazer para impedir. Você é meu único laço, cordão umbilical, ponte entre o aqui de dentro e o lá de fora. Te vejo perdendo-se todos os dias entre essas coisas vivas onde não estou. Tenho medo de, dia após dia, cada vez mais não estar no que você vê. E tanto tempo terá passado, depois, que tudo se tornará cotidiano e a minha ausência não terá nenhuma importância. Serei apenas memória, alívio, enquanto agora sou uma planta carnívora exigindo a cada dia uma gota desangue para manter-se viva. Você rasga devagar seu pulso com asunhas para que eu possa beber. Mas um dia será demasiado esforço,excessiva dor, e você esquecerá como se esquece um compromisso sem muita importância. Uma fruta mordida apodrecendo em silêncio noprato." 

(Trecho de: A outra voz - Caio F.)

domingo, 25 de março de 2012

Balada de Gisberta





Perdi-me do nome, 
Hoje podes chamar-me de tua, 
Dancei em palácios, 
Hoje danço na rua. 


Vesti-me de sonhos, 
Hoje visto as bermas da estrada, 
De que serve voltar
Quando se volta p'ró nada. 


Eu não sei se um Anjo me chama, 
Eu não sei dos mil homens na cama 
E o céu não pode esperar.

Eu não sei se a noite me leva, 
Eu não ouço o meu grito na treva, 
E o fim vem-me buscar.


Sambei na avenida, 
No escuro fui porta-estandarte, 
Apagaram-se as luzes, 
É o futuro que parte.


Escrevi o desejo, 
Corações que já esqueci, 
Com sedas matei
E com ferros morri. 


Eu não sei se um Anjo me chama, 
Eu não sei dos mil homens na cama 
E o céu não pode esperar.
Eu não sei se a noite me leva, 
Eu não ouço o meu grito na treva, 
E o fim vem-me buscar.


Trouxe pouco,
Levo menos, 
E a distância até ao fundo é tão pequena, 
No fundo, é tão pequena, 
A queda.
E o amor é tão longe, 
O amor é tão longe…

E a dor é tão perto. 

 (Pedro Abrunhosa)

sábado, 24 de março de 2012


Solidão em Par


Enquanto o mundo parecia girar você estava ali. Sempre esteve. Criou em mim o pulso firme, o sorriso amargurado, a caminhada sonolenta e demasiadamente cansativa – aparentemente. E você sempre esteve ali. No sutil rumo da caminhada. Nos livros velhos e gastos. Na roupa. No cheiro de mofo e enfim, em tudo. Enquanto eu me debruçava nos livros e voltava aos estudos você estava ali, sentado na minha poltrona tomando café, de pernas cruzadas, resmungando sobre o mundo e quiçá tocando violão - o que você não fazia muito bem.
No dia que surtávamos era tudo diferente. Você me jogava no sofá, eu te mordia o peito e depois dava beijinhos pra passar, você me arranhava e depois voltamos a nossas posições de sempre. Eu na mesa sentado e debruçado sobre os livros e você na poltrona, ou apenas nós dois no parapeito da janela tomando sorvete com pedaços de morango. Sutilmente éramos felizes.
Mordo sutilmente o lábio. Vejo-te passar em frente à TV no meio do meu programa predileto. Você chega tarde e eu demasiadamente cedo. Tomo dois goles de refrigerante, você ama café. Como bolo de chocolate e você prefere devorar a nicotina de seus cigarros. E sobre todas as coisas somos um silêncio abrupto mesmo nas horas mais gritante de nós mesmo. Somos silêncio após silêncio.
O cachorro da vizinha costuma latir sempre que ela sai e você vai lá dar comida por baixo da porta enquanto eu levo meus manuscritos para a editora. É, você fala mais com o cachorro do que comigo, mas não faz mal. Estou bem assim, estou bem aqui sendo um vazio em conjunto. Sendo dois.

terça-feira, 20 de março de 2012




— Pra onde você vai?
— Andar.
— Vai não, volta. Senta aqui.

(Silêncio)

— O céu está...
— ... lindo.
— Ai, faz tempo que não...
— O que?
— Durmo bem.
— Eu também.
— Cansado?
 — Hã? 
— Nada.

(Dedos entrelaçados)

— Me beija.
— O que disse?
— Oi? 

(Silêncio)

segunda-feira, 19 de março de 2012

Enamorando




Disseram que me havia um brilho no olhar diferente noite dessas. Pergunto-me se não foi por ter corrido tanto ontem pela noite naquela praia deserta enquanto você me beijava. Não sei, mal entendo de brilhos e sorrisos, mas quem sabe tenha sido esse seu sussurro ao pé do meu ouvido que me fez crer no inacreditável. Possa ter sido apenas Iemanjá, o vento do mar, o silêncio e a solidão do mar. Quem sabe não tenha sido nada.

Não me olhe assim, nós bem sabemos que sou mal entendedor de poesias felizes. Acostumei o meu ser com a solidão divina, com o pouco de suspiros alegres. Agora me veja aqui perdido sem lhes saber o que responder. Tudo isso graças a esse brilho tolo. Graças a essas ilusões tolas. Tudo culpa sua.

Divindades




Encaixa assim tua mão na minha e deixa o vento nos soprar estes sonetos de amor cantados pelas minhas ninfas. Embala teus olhos nos meus e como ressaca me traga pra dentro de ti violentamente. Entrega-me esses teus sorrisos e me deixa te ninar por mais esta noite.
Transforma-nos em suo de esperança para outrem. Sorria em silêncio pra mim e tire todo o ar que já não me sobra. Me deixas afogar em ti. Fale bobeiras de nós. Seja meu enquanto puder. Faça-me escravo destes teus desjeitos. Seja meu e durma bem.

Desejo de Corpo





São sorrateiros em mim
provocados ao sentir teu ar
Construídos ao decorrer
de devaneios sem pensar

Sou eu em mim,
revivendo o futuro
e sonhando com o passado

São propostas de ilusões.
Doces, minhas, doces.



E toda vez que recosto a cabeça na janela do ônibus dou-me conta de estar pensando em ti. Provoca-me sorrisos incertos apenas quando penso nos “E se...” ou quando remonto as cenas de nós dois. Sussurro a mim mesmo palavras suas que nunca foram ditas.

Tuas provocações me vêm na mente e neste momento já não sei onde é real. Vejo teus olhos que tanto devoro, sinto teus lábios sorrirem pra mim. Provocas-me sem nem mesmo saber assim soprando este teu hálito doce.  Assim me sussurrando ao pé do ouvido todos os teus desencontros, me inundando com esses teus olhos.


Devoras. E permito-me ser assim feito. Toco-lhe a pele ardente. Dou-me conta de querer teus lábios pra mim, de desejar levar nossos corpos, que fervilham, a um paraíso inesgotável de mim. Desejo. 

Mas por fim não espero nada de ti, nem mesmo teus belos sorrisos por muito tempo. Por mais que seja permitida a ilusão, sei até onde caminhar. Por isso, guardo os meus desejos em mim e deixo-me apenas te devorar, sentindo o teu cheiro, teu gosto e tua pele. E vou assim caminhando por esses caminhos de nós, reconstruindo nossas cenas enquanto há tempo.

terça-feira, 13 de março de 2012

Meu bem, meu anjo


Às vezes, esqueço o quanto ainda tenho de nós aqui em mim. Passo tanto tempo acreditando estar curado de tudo isso e logo que te vejo, que te toco, sinto que nada parece ter mudado desde o dia em que selei nossos lábios. Incrivelmente vejo em teus olhos os nossos melhores momentos, lembro de tudo o que se foi e nunca mais voltará. Pergunto-me quando alguém vai me tirar isso que teima em não querer sumir de mim. Isso que sufoca o meu peito de tanto fervor, que me faz te olhar e desejar teus braços ao meu redor, desejar tuas palavras doces e teu jeito único. Que me faz desejar passar horas ao teu lado apenas conversando, rindo mesmo sem poder te amar por inteiro. (...) Mas mesmo assim quando o coração bate forte, a mão gela e um suspiro teima em sair vou continuar te dizendo: “Eu te amo” 

sábado, 10 de março de 2012

Furtacor



E sem os olhos abertos nada consigo ver.


ㅤ ㅤSeu hálito era doce, canela, hortelã, morango. Quem sabe houvesse chocolate ali no meio. Os olhos eram claros mas mudavam de cor com o tempo, com o sentimento, com o clima e até mesmo com um pensamento.
ㅤ ㅤ— Chega a ser impossível conseguir mentir pra mim esses dias, no entanto, consegue me fascinar com destreza — sussurrei para ela enquanto fitava-me fixamente os olhos.
ㅤㅤ— Quem sabe eu nem precise mentir, apenas omitir — ela me sussurrou seguindo com uma leve mordida em meu lóbulo direito.
ㅤ ㅤEm pleno silêncio a pobre menina já era capaz de conquistar homens assim como eu, tão maduros e armados contra paixonites agudas. Contra sensualidade bruta. Tentei retirar cada pensamento pecaminoso da mente enquanto ela tirava a minha respiração vagamente, era ridículo, mas tentei me manter lúcido.
ㅤ ㅤ — De onde és, viajante?
ㅤ ㅤ— Quantas vezes precisarei dizer que sou o mais puro de teus devaneios? — respondeu me guiando dignamente até uma poltrona próxima, mordiscou o lábio inferior e sorrio. Ela não precisava tocar em mim para que meu corpo fizesse o que ela queria. Ela bem sabia se comunicar apenas com o olhar.
ㅤㅤ— Desculpe, não consigo entender-te
ㅤㅤ— Nem tente … — revirou os olhos, gargalhou — A questão em si não é entender, é sentir! — comunicou desfazendo o laço envolta da cintura. Deixou o mesmo cair ao chão, logo retirou a primeira alça e a segunda do vestido. Estava ali nua, crua e encantadora.
ㅤㅤ— O que te faz pensar que te sinto — gaguejei. A mesma aproximou o corpo do meu enquanto passava os lábios levemente no meu ombro desnudo. Ela havia me despido, me feito pensar em coisa proibidas para o meu interior. Ela era o pecado. A morte. Estava sentada em uma das minhas coxas, sentia a pele quente e lisa desta. Seus dedos se entralaçavam em meu cabelo.
ㅤㅤ Acendeu um cigarro, sorrio vagamente e me soprou fumaça no rosto.   Estava entregue. Revirava os olhos. Gemidos fracos poderiam sair de mim a qualquer momento.
ㅤㅤSilêncio.
ㅤㅤNão houve se quer uma palavra. Minha respiração estava ofegante, mas a dela era, simplesmente, calma.
ㅤ ㅤOs olhos antes rubros se mesclavam, variando de cor mas logo se tornando um azul-celeste divino. Pude admirar muitas outras cores antes desta predominar. Era exatamente isto que deixava-me nauseado. Seus olhos eram o encanto mortal a um pobre mortal.
ㅤㅤ— As janelas de tua alma — gemi.
ㅤ ㅤMal conseguia me dar conta, já estava deitado sobre o chão frio e duro, enquanto olhava o céu estrelado para fora da janela. Sentia seus lábios agora percorrerem meus mamilos fazendo estes enrijecerem e um gemido leve me escapar. Forcei meus olhos a ficarem fechados, ou ele se obrigou por si. Meu corpo se contorcia em suas mãos.
ㅤㅤ— E o que compreendes por tentação? — ela disse em um tom doce.
ㅤㅤO vermelho-sangue inundou seus olhos e desta vez havia uma mulher em minha frente, a criança havia sumido. Os cabelos eram longos, o sorriso o mais lindo que já se pode encontrar. Mesmo com unhas tão afiadas ela acariciava por sobre a minha pele com delicadeza sem deixar marcas.
ㅤ ㅤ— Como posso te satisfazer? — ela sussurrou ao pé do meu ouvido acompanhando uma leve mordiscada em meu lóbulo. Mordisquei o lábio inferior passando a lingua em seguida. Um sorriso malicioso me inundou a face. Sentia um arrepio vindo do centro da minha cabeça percorrer as costas e inundar todo o meu corpo.
ㅤㅤ A cocha dela prendia-me levemente pela cintura, assim como eu segurava-a pela cintura. A intensidade dos olhares aumentava drasticamente, os lábios se tocaram levemente. Após ela arrastar seus lábios para o meu pescoço, escorregando para o ombro mas logo voltando para a curva entre o ombro e o pescoço onde o cheiro de ninguém é igual. Sorriamos.
ㅤㅤPrendi-a sobre meu colo girando nossos corpos para que pudesse dominar — É assim que você pode me satisfazer — sussurrei para ela. Estava de joelhos no chão, as pernas dela entrelaçadas em volta da minha cintura e sua nuca apoiada no sofá.
ㅤㅤEla revirava os olhos, que a esta altura estava de todas as cores imagináveis e inimagináveis. Mordiscava os lábios. Suava. Rebolava levemente. Ela contorcia o corpo e fazia o meu se contorcer.
 ㅤㅤ E com tudo estavamos entregues.
ㅤㅤGemidos. Suor. Olhos Furtacor.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Quatro paredes



E ainda me deixo repetir esses meus versos marcados. Deixo os olhares, a alma, o cheiro ainda impregnado nestes rascunhos. São tão comuns que já não os vejo com tanto fervor. Essas coisas que repito admiro em todos e estou cansado de um conjunto. Preciso de um. Estou cansado de pouca exclusividade e charme de muitos, quero o charme de apenas um.

Quanto mais quero a exclusividade de um par de olhos vejo que não estou preparado para isto. Não tenho palavras, requebrado e toda a sedução que é necessário para ter nem que seja um par de pernas em torno da minha cintura. Nunca aprendi a jogar esse jogo, a rodar nessa roda, a viver como um igual.

Isso tudo é por continuar aqui debruçado nestes versos cheios de paixão. Essas minhas ilusões, que já transbordam o papel, com um amor incomum, com corpos suados, olhares que descansam um sobre o outro, vozes que se comunicam sem que lábios exalem som algum, apenas se afoguem. Tudo isso que me entorpece sem que aja um outro alguém.

Pobre, pobre, pobre rapaz!

terça-feira, 6 de março de 2012

Pequenas Epifanias


(...) Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de “minha vida”. Outros fragmentos, daquela “outra vida”. De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.
Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mau me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas. (...)

Caio F.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Luz dos meu olhos



E como se não houvesse espaço me derreto em ti. Derreto-me por completo em teu colo, ao sentir estas tuas caricias. São me dadas poucas chances de sobreviver depois disto. Já sabes tão bem onde me tocar e como que não me cabe o desejo de sair de perto de ti. Esses teus olhos, esse teu cheiro adocicado e teus lábios, que teimam em fugir dos meus, deixam o meu ser em entorpecentes rodopios.

Não sabes nem mesmo o que desejas de nós, mas mesmo assim gosto disso. Gosto das tuas indecisões, da tua falta de liberdade em mim. Sabe garota, deve ser isso que tanto me fascina em ti. Deve ser não te doares inteiramente para mim. É me olhar com desejo e não tocar, é cantar versos lindos e não me dedicar um se quer deles, é me sorrir beijos e soar apenas como sussurros. Tu sabes por onde caminhar em mim, sabes que é assim que teremos um ao outro até que assim seja determinado um fim.  

domingo, 4 de março de 2012

Carne crua



Ainda sinto o teu cheiro impregnado em mim. Teu cheiro de incenso, desse teu quarto cheio de nós. A música ainda chega aos meus ouvidos e permite que todo o meu corpo se apavore diante de teus lábios. Devoras-me por inteiro, assim me olhando nos olhos e me redescobrindo com teus truques violentos em mim. Meus gemidos escapam de nossos lábios, vejo você assim homem meu. E teu vinho derramado em cada umas das curvas minhas. És homem meu, que me bebes e me come em ceia farta. 

Meus dedos não te deixam escapar. Enquanto se contorces apenas com esse clima que paira entre as nossas quatro paredes devoro a tua carne suculenta e macia. Lábios feridos quase sangrados, com gosto de cigarro e vinho. Corpos que gotejam um suor vagaroso, entre olhares fortes e doces beijos. Envolvidos em um só temos a compaixão de sermos escritos nas paredes deste meu quarto quente e abarrotado de memorias. Então somos muito mais que meras memorias, somos corpo suado e devorado. Somos pintura cravada no concreto.

sábado, 3 de março de 2012

Oh, Lara!

Dedicado a Lara Carraro

Sussurros latidos
deixados de lado
Os lábios que se querem
se perdem na cama

Somos cão e gato
que se perdem ao olhar
Somos animais que se querem
mas não podem se tocar
Desejo ardente até o chão
nós e um único coração

Introspecção



As paredes do quarto rabiscadas parecem me agredir com um passado incomum. Até as imagens já ganharam tom, forma, fala e movimento. Tudo se transformou no derradeiro. Não existe onde se quer enfiar minhas palavras, onde eu possa desabafar e desaguar as lágrimas que teimam em querer sair. Novamente, vejo-me preso em mim. Respiro a solidão que tanto cativei, mesmo parecendo estar tão rodeado de gente. Essa é a prisão que criei em mim e agora desaprendi a gostar.

Confiei em outros, apoiei as minhas dores em ombros que pensei que pudessem suportar as minhas indagações sobre mim, que pudesse me guiar para longe. Esperei demais daqueles que mal podiam consigo. Apoiei-me onde não havia sustento. Vejo que estou caindo. Vejo que até mesmo não escutar o que os outros dizem já não faz tanto sentido, isso me dói, me fere. Não me sinto seguro para sair de onde estou, o caminho parece inseguro e juro que posso afundar a qualquer momento.
É, dói.
Vejo que agora estou aqui rodeado pela multidão, mas ela não para pra me escutar. Ela nunca parou. Simplesmente mentiu pra mim e quantas vezes precisarei dizer que a odeio por isto. A cicatriz dói inflamada, os olhos lacrimejam. Não sei por onde andar, pois no fundo eu nunca soube.

Minha Menina


Abraça-me forte e diz que não vai embora. Diz pra mim. Conta historias exageradas e me encobre de beijinhos. Deita aqui tua cabeça ao meu peito e me deixa te fazer sonhar por esta noite. Vem menina, juro que carrego as tuas malas e te preparo um chocolate quente. Vem, menina, vem. Sei que parece que sonhar se tornou difícil, mas sei que posso tornar tudo fácil. Sei que podemos caminhar de mãos dadas por estas ruas, tomar um sorvete na calçada e depois te levo pra casa. Te dou beijinho. E antes mesmo de chegar a casa eu te mando sms agradecendo por ter me doado um pouco de si. Por ter me tornado alguém feliz. Então você me fez sorrir, me fez olhar todos no ônibus e desejar uma linda noite. Uma noite melhor que a minha sem você por perto. Mas logo o celular toca, e é você. Então não me deixas nem atender, apenas me avisa que está pensando em mim e eu deveria fazer o mesmo. Olho nossa foto no papel de parede do celular. A marca de uma longa tarde. Uma tarde nossa. E o que me diz? Vem ser feliz?

sexta-feira, 2 de março de 2012

Entre laços



— Se eu pudesse casava com você agora.
 — E o que ainda estamos fazendo aqui?
— Sou muito novo, não quero te magoar, não quero me magoar. Pouco nos conhecemos, temo por nós e pelo mundo. Temo não ter como nos sustentar.
— A tentativa não é apenas sua...

Suspiro

— Você sabe que estarei lhe esperando?
— Isso é uma promessa?
— Perguntas se respondem com perguntas?
— Você me ama?

Silêncio

— Eu te amarei

quinta-feira, 1 de março de 2012

Sonho Primaveril


Mais uma primavera está indo embora e com ela o seu cheiro, o seu sabor. Olho-te nos olhos. De longe. Apenas te observo você se quer sabe. Teu perfume parece ter sido borrifado em cada esquina menino, estou sentindo ele agora mesmo. Ele me trás nostalgia, acorda as borboletas do meu estomago, me descontrola. Então vou correndo ao seu encontro. Bem que eu gostaria de não ter de te ver está noite novamente, mas preciso de teu sorriso. Este teu sorriso envergonhado.

Abraço-te. Abraço forte pra sentir o teu cheiro, pra me impregnar de ti. Mergulho em braços teus e me deixo guiar por uma expedição de volta ao tempo. Tempo precioso.

E cada vez que olho nestes teus olhos volto no tempo em uma cena preciosa. Dessa vez lembro-me de um parque, de amigos e de seu colo. Lembro de você brincando com meu cabelo, me contando qualquer besteira enquanto eu me afogava em silêncio. Engraçado, mas eu lembro que você repentinamente parou de falar. Me arrumei entre as suas pernas, te olhei e sorri. Claro, meu pedido de desculpas por silêncio não podia ser diferente do meu silêncio. Você me compreendia. Me sorria de volta. Me abraçava em si. Fazia com que os medos se fossem.

Volto pra realidade com a mesma sensação. Sinto o mundo parar. Minha respiração ofegar. Sinto os dedos dos pés apertarem dentro do tênis. O ar falta. Vertigem. Silêncio.

Vou embora sem te dizer um “Olá, tudo bem”. Sem olhar pra trás. Vou embora correndo, com medo que você chame a policia por eu te levar mais um abraço. Não queria te enamorar, nem conversar bulhufas por está noite. Nem mesmo um cigarro eu te pedi. Eu só te queria por inteiro, mas teria apenas por devaneio histérico.Volto pra cama e durmo, sem choro ou soluço. Ter-te por dois segundos era sempre o suficiente pra me aconchegar por trinta noites.

Entorpecente Veneno



Um arrepio correu meu corpo quando nossos lábios se tocaram. Era a primeira vez deles. Sutil. Foi um toque leve, calmo. Mas devorador. Meu coração estava acelerado. Bem, eu estou com ele a mil por hora desde que te vi pela primeira vez. Paixão a primeira vista. Na verdade, excitação.

Sentia seu corpo imprensar o meu contra a parede. As luzes sumiram e não pude resistir, eu esperava que elas sumissem por tempo suficiente. Sentia nossas línguas brincarem. Eu já ofegava. Afogava-me em teus lábios.

Dedilhei sua nuca sinuosamente. Agarrei seu cabelo. Te fiz recuar. Te olhei nos olhos e me deliciei com teus olhos fervorosos implorando por mais. Agora já não haveria volta. A parede não nos foi o suficiente. Escorreguei com as costas nesta até o chão. Você entre as minhas pernas. Senti seus lábios tocarem meu pescoço, logo após a barba mal feita. Meu corpo tremia. Gemia. Seu perfume me inundou as narinas e logo fui levado ao céu e ao inferno ao mesmo tempo. Um pé de cada lado. Ou se quer fronteiras. Eles se uniram e se apresentaram. Anjos e demônios. Eu e você. Seus pecados e minhas dividas.

Seu membro rijo contra meu membro rijo. Arrepios e algo que sutilmente nunca consegui descrever. O sabor de cigarro que eu sentia bem ao fim da língua já havia sumido. Sentia sabor teu de homem.  

Você deitou meu corpo ao chão e se deleitou. Seus lábios me percorriam, me excitava. Mordisquei seu lóbulo e larguei um leve gemido. Meu corpo se contorcia na utopia de te ter. Rolei nossos corpos pelo chão. Agora me dei o comando. Te fiz aguardar. Você estava entre as minhas pernas. Apertei seu membro levemente, enquanto te fitava fixamente. Mordisquei o lábio. Meus lábios estavam inundados de ti e não via a hora de mais. Alisei seu peito e suguei seu lábio levemente.

Meus lábios percorreram o caminho em que fiz por noites. (Lê-se: sonho estava se tornando real.) Escorreguei meus lábios até seu lóbulo onde passei a ofegar, logo fui descendo. Precisava sentir teu cheiro. Cheguei a curva, aquele velho encontro entre a nuca e o ombro.  Mordisquei e forcei sua pele contra meus lábios. Suguei-a pra mim. Seu sabor era delicioso, me deliciei por horas a fio.

Fui descendo. Descobrindo-te em curvas. Desci por estas até não me caber mais ao controle de te descontrolar.  Seu corpo se contorcia enquanto eu fazia minhas mãos e lábios irem descobrindo cada parte de si. Querido, teus olhos eram como fogo que arde sem lenha. Então você me entorpeceu. 

Teu gosto de homem me escorria pelos lábios. Quente. Salgado. Você me presenteava com o néctar dos deuses. Apolo que me perdoe, mas ele não conhece a perfeição transcrita em momentos. Não se quer conheceu o Deus mor.

Você atravessou sua alma na minha. Tentadora sensação. Revirei os olhos e deixei meu corpo se contorcer. Sua respiração ofegava na minha orelha e apenas isso me era o suficiente. Seu corpo nu de homem viril sobre meu corpo de jovem franzino. Afoguei-me em devaneios por longas noites.

Simplesmente obrigado, querido devaneio.