segunda-feira, 28 de maio de 2012

Pitoresco



E te olho nos olhos. Fundo. Calmo. Sereno. Jogo-me dentro, profundo, no fundo dos teus olhos. Sinto tua pele, tão anormalmente mais quente que a minha, me tocar e me sussurrar esse amor inteiro que já gritas em um silêncio surdo. E tomo a tua mão nas minhas, tomo o teu corpo no meu. És meu, inteiramente, não te deixo repartir com mais ninguém. E te aperto contra meu corpo, te domo. Meu. E novamente me passa pela mente os medos de sempre. Quase choro. Quase soluço. É forte, é impossível de não pensar, mas logo quando você me sussurra que está tudo bem meus devaneios se vão. Tomo teu corpo no meu e caminho.
Meu sorriso é pouco, meu corpo ainda não reage tão bem. Sinto-me dormente. Você não entende, querido, mas isso é tão forte que até agora parece um sonho bom que logo vai ter fim, que logo vou acordar. Escuto as tuas músicas preferidas e tento não chorar, tento controlar a vontade louca de te ter por perto. A saudade já é tão forte, mesmo você tendo acabado de me beijar os lábios. Quero você aqui pra sempre, mas isso você já me prometeu. Sabe cumprir promessas?
Você entende o quanto ainda é estranho? Você entende que me joguei de um prédio alto de vários andares sem pestanejar? Você entende que os outros não me fazem sorrir enquanto volto no ônibus pensando em você, os outros não me fazem um bem, não me tiram medos, não me sussurram eu te amo apenas com a pele quente sobre a minha. Você entende? Você entende que vou de contra os meus princípios, contra a sociedade? Apenas por você.
Novamente sussurro calmo um eu te amo ao vento, para que dessa vez ele possa te entregar de forma a impregnar as tuas entranhas. De forma a te fazer entender que me perder em ti é desejo solido e não há outro alguém, nem mesmo ela rainha dos meus mares, que me faça te tirar de mim.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Despedidas




Chove lá fora. Acho que vou fechar a janela e abrir a porta. Fechar a janela pra ver se essa chuva para de invadir e escorrer pelos cantos da janela, louca pra me tocar. Vou abrir a portar pra ver se você chega logo, pra ver se me guarda em ti. Coloquei a vassoura virada de cabeça pra baixa por trás da porta pra ver se consigo mandar a chuva, que se joga aqui dentro, pra fora. Quero você dentro, pra aquecer meus pés. Beije-me os lábios. Dentro pra poder me sussurrar loucuras de amor.
E vejo o apartamento vazio. O edredom é companheiro de alma. A água ainda escorrer pelas veredas, entre as cerâmicas esverdeadas. Choro. Junto todas as águas. As quentes, minhas, as da torneira, as do chuveiro, as que a janela deixa entrar. Tudo estar aberto e escorrendo. Quero o frio, pra ver se lembro como é que teu corpo aquece o meu. Quero vento frio. Quero contradição.
Deito no chão já tão molhado. Agora deixo a água me tocar, me banho em mim, me banho nela. Jogo-a para todos os lados. E eu que não quis tê-la em mim, vejo como é bom esse frio que agora percorre a espinha. O cabelo respinga, goteja. Vomito se mistura. Não suporto o meu calor. O coração bate forte. Quente.
Tiro a vassoura de trás da porta. Você não vem. Estou acostumado. Não vou chorar. Vou aproveitar. Lavar a casa. Ver se coloco Marisa Monte pra tocar. Vou chorar. Resmungar. Criticar. Mas dessa vez vou lavar a alma e curar as feridas.

Vamos sair pra ver o sol




- Mas e se for inseguro?
- Seguro a tua mão
- E se..
- E se, e se. Deixe-os de lado, vem comigo.

Então te abraço forte. Sugo teus lábios nos meus. Tenho medo. Sinto dor. Teu olhos nos meus e um sussurro leve do vento contra mim. Ainda tenho medo de caminhar, meu coração bate acelerado e a voz falta quando escuto a tua. Quero-a grava para escutar o dia todo. Agora, depois, antes de dormir, enquanto estiver dormindo. É forte, esmaga por dentro. Quero você quente entre meus braços, lábios.
Contenho-me para não correr contra você. És tão o que tanto desejei, com frases e palavras, com olhar e lábios, com toque e conforto. És meu, tão meu, que ainda não consigo acreditar que posso te abraçar e te ninar, que posso te colocar pra dormir e te acariciar enquanto planejo teu futuro e meu passado. Nosso romance.
E sinto teu perfume que parece ter sido borrifado por todos os cantos da minha casa. Desejo-te aqui. Mesmo assim sem palavras, as que você faz o favor de tomar, quero o teu sorriso, teu toque. Quero você. E tenho.
E me vejo sem palavras, querido, para continuar...

terça-feira, 22 de maio de 2012

Uma memória, Um devaneio




Promessas inevitáveis. Teus olhos que brilham, teu sorriso que amansa uma tourada inteira. Teu charme, teu ser, você. As ondas de vento batem forte contra nossos corpos que se confrontam na parede, única cumplice concreta. Sugo-te inteiramente pra mim, quero estar dentro de ti, ser teu e que sejas apenas meu. Aperto nossos corpos, quero mais. Quero sempre. Quero agora.
E logo me fazes promessas. De beijar os lábios, de juntar as escovas de dentes, de ser apenas meu. Choro já, mesmo antes de começar, por ter medo de que tudo isso seja apenas uma armadilha. Coisa de demônios travessos. Tenho medo de me quebrar inteiro. Sou precipitado, menino, você não entende, mas meu coração já acelera ao falar contigo. Os dedos tremem. Paixonite.
Quando as manhãs são frias penso em você me abraçando, quais as manhãs são quentes te imagino me levando pra tomar banho. Já tramei a nossa trama, deixei que tudo fosse consumado e agora vivo uma dor precipitada da partida. Já te vejo ir por aquela porta sem mais volta, temo por mim. Pelo coração frágil.
Mas que seja o de houver de ser. Seja meu, teu, nosso. Apenas seja. 

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Stay



Contar com a pele. Com a astrologia. Com a fome e a sede. Contar com a sorte. Depois chorar, querer lugar para enfiar a cabeça. É que esqueço que não tenho sorte no amor, nos romances. Esses são todos aperitivos da vida para a minha pobre solidão que merece descanso por sobre diversas vezes. E me engano sempre. Deve ser coisa da carência que sempre atinge seu ponto máximo depois que a solidão se vai. A solidão completa, no fundo. E novamente me derrubo, rastejo. Sou fraco ao ponto de ainda acreditar nas cartas de tarô. Pobre menino. Mas e que se faça a vida, que se faça o mundo. E não esperarei mais amores e sim aperitivos, esses virão e sem dó me aliviarei nestes. 

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Em uma tarde de Domingo




Com os olhos fechados te deixo me guiar, mesmo sabendo das topadas, dos buracos, por todo o mundo. Esse teu cheiro tão meu me deixa seguro, deixa a vontade de me abrigar na curva do teu corpo enquanto você grita no silêncio ou fala pelos cotovelos descontroladamente. Queria poder me aninhar em teu colo, te provocar sorrisos, te sussurrar eu te amo. Queria o teu ser pra mim.
E durante as noites de lua cheia me reviro no colchão, queria você aqui. Agora. Pra sempre. Teu cheiro de homem forte, teus lábios e línguas dissimulados.  Pensei esses dias em oferecer meu corpo a Exu depois ver umas oferendas para Iemanjá pra ver se você vem. Pra ver se te laço em mim por tempo pouco, tempo meu. Por segundos exatos de uma eternidade. Mas é tarde demais, é inexato demais. É falso.
Então enquanto me olhas assim, advertindo as minhas ações, tenho uma vontade de te sugar para dentro do meu submundo secreto em que nós dois somos reis soberanos. Em que você será meu e então entregarei a ti o que já te pertence. Entregar-te-ei amor, querido.  Todo o meu ser.
E depois de tantas noites te solicito apenas uma de embarque por entre os bosques, sendo abençoados pelas ninfas, dançando com os caboclos, revelas pra mim o não. Peço-te que seja meu no alinhamento de marte e jupiter, seja agora. Ou nunca. Talvez esteja. Seja. Viva. Mas não.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Menina-bonita-bordada-em-flor











“Menina bonita bordada de flor
Eu vi primeiro
Todo encanto dessa moça
Todo encanto dessa moça
(Marcelo Camelo)












Para Jessica do Vale


Ela vai assim caminhando com o cigarro na mão, que como incenso lhe permite misturar ao perfume um cheiro bom. Os cabelos aloirados esvoaçam no tempo enquanto o sorriso encantador permite que os batuques desse antigo Recife lhe rodeie para os pés descalços e o corpo malemolente dance e encante os viventes.
Entre tropeços, pois não para de dançar, ela se deixa rodear por esses boêmios amigos que sabem animar como ninguém. Esses boêmios ao qual escolheu a dedo cada um.
Ele está ali sentando esperando-a para aninharem os corpos. Sentado, admirando, sorrindo ao ver aquele leve sorriso na face dela. E neste fim de tarde de domingo ela apenas dança para ele, dança para o Chico da moeda e para si. As ruas desertas, pois tarde de domingo no antigo Recife costumam ser vazia – dependendo do seu conhecimento sobre a solidão    são despertadas pelos sussurros de seu corpo e pelo perfume que impregna eles. Queima, esvoaça e se desmancha no ar como incenso. Um último olá aos amigos e um último cigarro para a flor.
Desde um último instante nunca se vira tão maravilhada com o mundo. A mulher, que no fundo vai exalar sempre a essência de uma menina, sonhou com os passeios de skate, a abertura do baú e com os olhos do amado – amado Romeu rebelde.
 O vento lhe cobre de beijos e as ruas levam-na para longe de tudo. Lembrou que a sua paixão estava no pescoço e registou o vestido rodado, os pés descalço no chão, o batom vermelho, o mangue, as artes nas paredes e o pôr-do-sol que não há mais bonito que nesse tal de hellcife.
Como quem não quer nada, de um prédio tão próximo alguém sussurra: “Vai menina, te banha de mar e lama. Vai flor, me ensina a nadar.” E no Manguebeat ela se dispõe a girar, sorrir, cantar, fotografar. Entre lama e mar ela banha o desejo de apenas sorrir. Liberdade que lhe grita na mente do ser. Batuque de maracatu que ela dança e se liberta.
Essa noite não esperava dormir preenchida pelo que lhe suga a alma. Seus devaneios eram demasiados para que ele pudesse suprir. Nesta noite não havia vinho, rosas, chocolate e gruta molhada. Essa noite apenas cabia cigarros, cervejas, boêmios, sorrisos e fotografia. Além do Chico da moeda é claro.
Flor que recita nos ventos poesias e aos homens um desejo de lhe tomar com sua, entretanto, Julieta ama o Romeu. Pertence. Aninha. Deseja. Uma cerveja acalma os pés e uns braços sossegam a alma. Nada permanente.


quinta-feira, 3 de maio de 2012

Tarde de Outono









Estes são teus lábios aos meus. Lentamente que se tocam e sorriem. Teus olhos que me olham assim, ou quase não olham, que me deixam furtivo. Admiro-te assim vagamente, sentindo teu cabelo que esvoaça e o sol que nos queima a pele. Sentindo o vento que te adormece. E então te aninhas em mim, e te dou beijinhos, e você comprimi os nossos lábios e tenho o desejo de não tira-los dos meus. Suas mãos nas minhas são frágeis, são minhas. Suas mãos nas minhas são brincadeiras eternas, é você me olhando do jeito mais meigo e me sorrindo da forma mais doce. E novamente vens e me domas e me deixas sem ar, sem palavras. E vens e és minhas. Sou teu.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Dez de Março



Não faz muito tempo que você chegou e deixou que o seu sorriso me fosse um bom dia. Parece que faz uma eternidade desses nossos flertes seguidos de algo sublime que não seguiu o caminho planejado. Sabe querido, ainda sinto você me ninando noite a dentro, enquanto o seu corpo me aquece freneticamente e seu peito me serve de travesseiro. Seus lábios me sussurraram juras de amor, enquanto tememos adormecer na minha cama, pois alguém pode nos flagrar apenas assim de mãos dadas e corpos unidos inocentemente. Você jurou que continuaria por aqui pra sempre. Lembro da tarde em que conversamos tanto e logo um silêncio acompanhou-nos, foram tantas as juras naquele dia. Você ainda balança quando te toco a pele, quando te abraço forte. Sei que ainda ficamos balançados quando nossos lábios se tocam, mas mesmo depois de tudo não parece que ontem estávamos apenas sentados, desconhecidos, sorrindo.

Agora lembro que o ontem nunca soube mesmo o que foi o amor.