domingo, 29 de abril de 2012

Último Romance


Parecia que havia chovido. Não me recordo dessas gotas que banharam nossos corpos. O seu entre as minhas pernas, as tuas mãos me acariciando a nuca e meus lábios semiabertos junto aos teus. E consomes meu ar, suplico que tenhas dó. Logo sorri. Sorriso este que lhe brota a face pra me fazer esquecer que tu me enrolas em ti e depois faz brotar flores do meu peito. Tomo tuas mãos nas minhas e vamos caminhando. Eles gritam.
Enquanto a lua sorri, com aquele sorriso branco e largo, te abraço e te faço correr. Roubas-me sorrisos novamente só de me olhar assim de lado enquanto o teu cabelo chicoteia o vento. Assim, olhando a lua. Vou dançando, suplicando aos Orixás que nos deem os caminhos propícios. Ela, a mãe, nos banha quando as ondas batem nas muretas de pedra. Você corre pra longe, mas me deixo ser banhado.
Vamos assim então investigando um ao outro. Entre perguntas e rabiscos não entendo o que é isso em ti que me toma pelo braço e faz com que meus pensamentos sejam teus por toda a noite. Deve ser esse teu olhar que me faz sorrir, pensar, acelera meu coração e ainda me deixa com tremedeira nas pernas. Deve ser teus lábios que apenas me sussurram, mas mesmo assim me adoçam e queimam o corpo inteiro. Confundes.
Você vê aquele menino logo ali tocando violão e me faz sentar pra escutar. É a nossa música que ele toca, ou a partir daquele dia seria. Sento e te aninhas em mim. Faz-nos um embrulho e sussurras ao meu ouvido. :
- E só de te ver eu penso em trocar a minha TV num jeito de te levar a qualquer lugar que você queira.
E lhe respondo:
-  Que pra nós dois sair de casa já é se aventurar.  

"Let me give your heart a break "

Silêncio do Mar



E me pego perdendo uns sorrisos só de te olhar.  Encantas-me e não me pergunte qual é destes teus encantos que me fazem tão teu. Durmo em teus braços e me deixo sentir o cheiro da tua pele me inundar. Sinto tuas mãos nas minhas e teu coração que toca em conjunto com o meu. Nossos lábios que de relance se tocam sussurram a nossa mais nova música. Aninha-te em mim e penso que poderíamos ser um assim, sentindo a tua respiração. Em teus olhos me perco, em teus braços me apego e novamente me vejo não sabendo o que falar. Novamente respirar o ar e ser banhado por Iemanjá. Voltamos ao mesmo cenário, mas desta vez você me sorri e me compenetra de forma incontrolável. Negas um beijo, mas beija-me sempre. 

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Hey Lolita Hey


Os lábios já não possuem gosto, perderam aquele sabor de brilho labial de melancia logo depois do fim de outono. Se o brilho acabou? Estou mais satisfeito em acreditar que ela bem resolveu parar de usa-lo. Mulher já não lhe cabe ser nem mesmo em curtos devaneios. Agora se vestia de jovem, mas não tinha perfume caro e batom vermelho, era sabor de sabonete ao corpo e de boca nos lábios. Resolveu não ultrapassar as verdades de si.
E dois dias passaram deixando seu corpo cheio da sua própria essência. Esqueceu seus personagens, anseios, egos e desejos. Não havia salto alto e vestido tubinho vermelho. Tornou-se o puro. Comum em si sãos os olhares das vizinhas que não sabem dizer o que aconteceu com a dama do quatrocentos e dois. Houve boatos de que ela apaixonou o coração por um moço desses que deseja apenas uma noite de sexo. “Logo ela tão vivida?” repetia a velha rabugenta do cento e um, aninhando o buldogue.
Poucos sabem que não se doma os sentimentos. Mesmo ela, a sorridente senhora do quatrocentos e dois. Depois de tanto derrubar os homens feito dominó estava perdidamente sendo uma das peças de dominó de Romeu. A culpa era daquela maldita vontade de deixar que ele a beijasse os lábios de ponche de fruta e tocasse as curvas bronzeadas.
Noite passada fora abordada. Em vez de fazer todos caírem em seus jogos ela que estava caída e perdidamente apaixonada. E ele levou-a para o topo de um prédio, para as drogas de um bairro pobre, para o subúrbio do sexo e então jogou-a do prédio de quarenta andares. Fora o que pensou. Tomou uns goles da pequena, rolou-a e depois assistiu o pôr-do-sol aquecendo seu corpo ao dela em estocadas fortes e um olhar bruto.
Ela se perdeu. Nunca havia se encontrado com um bom jogador. Ele lhe domou e transformou a dama do quatrocentos e dois em uma jovem que não há abrigo que lhe segure. A jovem que parte de trem pra nunca mais voltar. Ele roubou-na de si. Mas saiba ela que precisava de um amor de verdade para cumprir o ditado da vida: “Ninguém passa nessa vida sem amar”.
E desde então não se reconhece a dama do quatrocentos e dois.

"I don't care what they say about me, because I know that it's l.o.v.e"

sábado, 21 de abril de 2012

Little Girl



A lua nos ilumina aqui sentados. Vejo-te assim, pelo relance de um sorriso, guardando em mim um beijo doce e um sussurro quente dos lábios que não exalam som algum. Faço-nos um único olhar e me debruço em ti, canto e conservo os versos de Caio Fernando pra que em conjunto possamos recita-los. Não há promessa de outra noite, de vida eterna, filhos, amores e qualquer outra coisa. É o nosso sentido unido apenas em olhares, em dedos entrelaçados e fugas fugitivas e escorregadias. Gosto do silêncio que abrigo, gosto do teu modo de compreender que não há o que ser dito e apenas o que ser vivido. São teus lábios doces, o teu corpo no meu e os nossos aninhados. É a compreensão que tens em mim. É a respiração que consumo de ti. Mulher, menina, criança.
Beija o eterno nosso, consome o que o tempo deixar a ser consumido. Seja minha e juro que levarei a tua bagagem...

Ridiculously Romantic



Não sei, mas ontem parece que sorri de verdade. Relembro ao certo você ali me olhando enquanto eu corria entre as árvores e dançava ao som das flautas e pandeiro das ninfas. O corpo despido de vergonha e o canto inundado de ilusões faziam de mim o ser mais feliz entre os bípedes. Consegui atravessar essa linha tênue que me deixa indeciso em querer te conquistar ou continuar deixando você de lado. Sabe querido, percebo, agora enquanto danço, que não há nada que eu possa escolher. Agora você me mostra esses teus olhos sorridentes, mas não são minhas causas eles, que sou livre de mim. Que não há um eu especifico, que nem todas as perguntas tem necessidade de uma resposta, que vivemos e apenas vivemos. Sorria comigo, dance e depois me deixe te levar para casa. Faça-me cantar e escrever enquanto eu posso, dê-me a mim mesmo. Sei que podes, sei que podemos. Beije-me a testa.

domingo, 15 de abril de 2012

Sem caminho


E ela se perdeu. Entre si, entre os bosques, entre olhares. Ela parece que não é mais quem um dia foi, pois não entende quem quer que seja. Aqui olhando de fora ela parece que não mudou nada, mas em si a dança soa diferente, tal como a música. Os monstros se foram e agora só resta olhar no espelho, só resta suprir as necessidades da forma certa. Mas onde está a coragem? E não cansa de dançar, pois dançar é o melhor meio de transborda a alma. E seus gritos nem são ouvidos enquanto ela dança, nem seus pulsos que sangram aparentam estar cortados. Vejo que de fora tudo parece inteiro, tudo soa normal. Mas ela se matou, ela morreu e não faz muito tempo.

"and I'll do anything to make you stay"

sábado, 14 de abril de 2012


- Acho que deve vir para a minha casa, morar comigo.

(Silêncio)

- Quer uma estranha, como eu?
- Sim, muito.
- Sabe cozinhar?
- Sei.

(Risos)

- Eu adoraria.

(Abraço)

- Vou ter que matar você.

- Por quê?

- Estou me apaixonando.

Oferenda ao Marinheiro


Os sussurros dos lábios teus que confessa aos meus a insanidade dos nossos corpos intrigados no querer. Vertigem que nos toma pela mão, enquanto me afogo dentre estes desejos de corpo que pede, que clama e enfim derrama e desagua ao mar. E tu que navegas assim marinheiro, tão firme, manobrando no mar em tempestade me olhas como quem tanto espera encontrar alivio e força pra sumir com toda essa dor indevida. E estou aqui pronto para suprir tuas necessidades, te aquecer e aconchegar-te a mim. Ela me banha, filho indefeso, para te encontrar e então derramar esta minha oferenda aos teus pés. Sou guiado assim pelo mar até te entregar a parte de mim, que em sacrifício, vens buscar. 



quarta-feira, 11 de abril de 2012

Little Boy


Lembro do meu indicador assim, silenciando teus lábios enquanto meus olhos e os teus são soberanos. Pude desejar que neste mesmo momento pudéssemos selar estes lábios que tão incessavelmente teimam em querer um ao outro, mas somos tolos ainda, somos medrosos. E enquanto escuto de fundo aquela nossa canção tocar fecho os olhos e recosto minha testa em seu ombro, seus dedos são assim doados a minha cintura e podemos dançar vagarosamente no corredor vazio. A tua camisa agora é minha, o teu calor é o que me aquece enquanto a chuva banha tudo ao nosso redor e o frio natural congela muito mais que o seu coração. A dança é melancólica como nossos nós na garganta, como esse meu olhar morto. Vamos assim sendo banhados com a chuva logo que você me leva de encontro ao mar, de encontro a si. E mergulho na curva do teu pescoço para não perder teu cheiro e me sufocas em si. Então tomas as minhas mãos nas tuas, és meu. 





- Não solta a minha mão
- Eu sempre estarei segurando-a

terça-feira, 10 de abril de 2012

Ela que resolveu sorrir




E nas noites mais quentes de verão mal lembro destes meus devaneios sobre você que me abraça, que me tira do chão, que me sussurra amor ao pé do ouvido, que me transforma no melhor que sou por simplesmente me fazer ser quem sou. Entende?
Parece que o outono chegou. Disseram-me que é apenas um aviso. Essa coisa de “lembra do calor de outro corpo” e “ vê se não fica se aquecendo apenas com as cobertas” pra ver se arrumo coragem de te procurar neste inverno. Os deuses estão cansados de me verem choramingar pelos cantos. Estão cansados de me ver caminhando sozinha. Eles já não suportam a minha companhia. Deram-me coragem.
Não, desisti dos livros de Caio, deixei de escutar as músicas de Cazuza e parei de tentar sorrir ao pensar em você quando escuto Tiê. Parece que estou me desfazendo. Lembro do verão e logo o motor do carro já está roncando e a pobre garota vai partindo pra mais um inverno nebuloso.
Deixei os amuletos em casa, as cartas naquele velho baú. Deixei a sua camisa sobre a cama, agora ela tem o meu cheiro. Deixei uns cds por ali e espero que não se esqueça de escutar as músicas que estão marcadas na capa. Os deuses me lembraram, trazendo o outono, que já passou da hora de apenas sentar no parapeito, tomando um chocolate quente e te esperando. Chegou a hora de correr e sentir o vento gélido cortar a face. Chegou a hora de ir te buscar, meu monocromático amor. 

sábado, 7 de abril de 2012

Soneto Madrugativo



Gosto de homens, dos mais novos aos mais velhos. Dos suculentos aos intrigantes. Gosto desses homens cheios de um segredo e os esparramados. Gosto dos novos pelo olhar, gosto dos mais vividos pelos lábios. Gosto desses ratos de academia e dos viciados em computador. De uns baixos pra poder me debruçar melhor, de uns inteligentes pra me dizer como usar a camisinha. Dos de óculos e os com sardas. Dos dançarinos da noite e dos trabalhadores da tarde inteira. E entre uns e outros vou me derramando pelas ruas. Os negros, os magros, os ruivos, os héteros, os gays, as travestis e até mesmo esses gordos donos de bar. Gosto mesmo é de homem, pra mergulhar em seus lábios e perfumar as suas curvas com o perfume do nosso confronto. Gosto é de saborear o seu sumo e lhes presentear com um gozo. Gosto é desses homens e do que eles podem me dar sem perceber. Gosto é de homens, de homens. 

Presente-imperfeito-dos-sujeitos


“ I was waving on the train platform crying
'cause i know i'm never comin' back.”
-       Lana del Rey


Soube, minha mãe sempre me contou: “Não confie, querido”. Não sei a que ponto chegamos pra vocês, mas vejo que o fim parece estar mais próximo do que imaginávamos. Foram lindas as juras, os momentos quiçá os melhores, entretanto, chega um momento em que tudo precisa seguir. Sempre soube, por mais que seja difícil aceitar, tudo um dia vai partir. Até mesmo nós que somos um eterno conjunto, entre trancos e barrancos, entre o indefeso e a miss popular.
E enquanto olho nossos rascunhos naquele velho caderninho de capa dura e folhas amareladas, sinto o amor que se esvaio, o amor que ainda existe, mas não nos une. Lembro agora que vocês me foram apenas um motivo pra continuar aqui, olhando pra essas paredes rabiscadas, pra me demorar um pouco mais no adeus. Deram-me uma virgula e souberam bem que eu nunca saberia usar, vocês sabiam.
Foi uma pausa longa. Agora sigo, preciso crescer. Estou perdido e não estão mais aqui. Vocês se foram primeiro e nem se quer percebi. Deram-me uma virgula e me abandonaram no meio dela.
Agora parece que acabou, que precisamos seguir. Vamos fumar esse último cigarro nosso, vamos rápido, pois meu trem chegou e não suporto mais continuar nessa plataforma. Não chorem, acabou. Apenas aceitem.
Cuidem-se.



"Recordando de um todo,
fomos e somos e nunca mais.
E seremos outros.
E faremos novos amores."

(Adeus, então, adeus - Thomaz Homero)


quinta-feira, 5 de abril de 2012


"Não se diz uma palavra quando, de muitas formas nunca claras o suficiente para que os outros entendam, tudo já foi dito."

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Momentânea dor



E novamente venho com esse meus clichês de me debruçar sobre teus olhos, perder-me em tuas curvas, sentir o teu perfume, mas nada de me eternizar em palavras de frente a ti. Vendo agora onde chegamos percebo que as minhas palavras são vagas, meus assuntos dispersos, meu sentimento não é valido de formas tão tolas e tão ambíguas como os demonstro. Sou homem fajuto que não sei tratar de palavras no calor do momento ou até mesmo no frio deles, preciso de tempo e esforço pra falar dessas minhas desilusões ou até mesmo dessas minhas emoções vividas em carne e osso, em língua e dentes, em mim e você. Sou fajuto ao ponto de não estar sempre com adjetivos prontos, com a similaridade das palavras na ponta da língua. Sou viajante de mim, amor, e não sei caminhar por essas avenidas da vida. Sempre disse isso, pois sempre soube, sempre falei disso, mas nunca me escutaste. Solamento



domingo, 1 de abril de 2012

Diário de uma Alienígena


E enquanto o corpo se mantem inerte sobre a cama a mente vai longe, passando da casa do vizinho até Londres ou Paris. Tudo é culpa dessa vontade, dessa fome de mundo. Nada aqui parece ter cor, tudo é meio monocromático e cheio de um tédio tão importunante que até meus ouvidos podem escutar esse preto e branco. E olhe onde vim parar, nesse fim de cidade pequena onde Barely Legal e Blue jeans são músicas descomunais. Nem os gatos daqui tem aquele encanto nos olhos, no ronronado. Vejo-me aqui então perdida nesse nojo que é se embriagar pelas ruas, se jogar na calçada e depois rir pelos próximos dois dias enquanto se bebe mais um pouco – se, e somente se, não houver algo mais engraçado nos bêbados durante esses dois dias seguidos. Minha pessoa não sai da cama, é tanto desmotivo que os motivos pra levantar se tornam apenas sonhos impossíveis de se realizarem. E tudo é rotina, e nada é colorido, e tudo é pouca merda e me esconderam o penico cheio. Amém.