Chove lá fora. Acho que vou fechar a
janela e abrir a porta. Fechar a janela pra ver se essa chuva para de invadir e
escorrer pelos cantos da janela, louca pra me tocar. Vou abrir a portar pra ver
se você chega logo, pra ver se me guarda em ti. Coloquei a vassoura virada de
cabeça pra baixa por trás da porta pra ver se consigo mandar a chuva, que se
joga aqui dentro, pra fora. Quero você dentro, pra aquecer meus pés. Beije-me
os lábios. Dentro pra poder me sussurrar loucuras de amor.
E vejo o apartamento vazio. O edredom
é companheiro de alma. A água ainda escorrer pelas veredas, entre as cerâmicas esverdeadas.
Choro. Junto todas as águas. As quentes, minhas, as da torneira, as do
chuveiro, as que a janela deixa entrar. Tudo estar aberto e escorrendo. Quero o
frio, pra ver se lembro como é que teu corpo aquece o meu. Quero vento frio.
Quero contradição.
Deito no chão já tão molhado. Agora
deixo a água me tocar, me banho em mim, me banho nela. Jogo-a para todos os
lados. E eu que não quis tê-la em mim, vejo como é bom esse frio que agora
percorre a espinha. O cabelo respinga, goteja. Vomito se mistura. Não suporto o
meu calor. O coração bate forte. Quente.
Tiro a vassoura de trás da porta.
Você não vem. Estou acostumado. Não vou chorar. Vou aproveitar. Lavar a casa.
Ver se coloco Marisa Monte pra tocar. Vou chorar. Resmungar. Criticar. Mas
dessa vez vou lavar a alma e curar as feridas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário