sábado, 10 de março de 2012

Furtacor



E sem os olhos abertos nada consigo ver.


ㅤ ㅤSeu hálito era doce, canela, hortelã, morango. Quem sabe houvesse chocolate ali no meio. Os olhos eram claros mas mudavam de cor com o tempo, com o sentimento, com o clima e até mesmo com um pensamento.
ㅤ ㅤ— Chega a ser impossível conseguir mentir pra mim esses dias, no entanto, consegue me fascinar com destreza — sussurrei para ela enquanto fitava-me fixamente os olhos.
ㅤㅤ— Quem sabe eu nem precise mentir, apenas omitir — ela me sussurrou seguindo com uma leve mordida em meu lóbulo direito.
ㅤ ㅤEm pleno silêncio a pobre menina já era capaz de conquistar homens assim como eu, tão maduros e armados contra paixonites agudas. Contra sensualidade bruta. Tentei retirar cada pensamento pecaminoso da mente enquanto ela tirava a minha respiração vagamente, era ridículo, mas tentei me manter lúcido.
ㅤ ㅤ — De onde és, viajante?
ㅤ ㅤ— Quantas vezes precisarei dizer que sou o mais puro de teus devaneios? — respondeu me guiando dignamente até uma poltrona próxima, mordiscou o lábio inferior e sorrio. Ela não precisava tocar em mim para que meu corpo fizesse o que ela queria. Ela bem sabia se comunicar apenas com o olhar.
ㅤㅤ— Desculpe, não consigo entender-te
ㅤㅤ— Nem tente … — revirou os olhos, gargalhou — A questão em si não é entender, é sentir! — comunicou desfazendo o laço envolta da cintura. Deixou o mesmo cair ao chão, logo retirou a primeira alça e a segunda do vestido. Estava ali nua, crua e encantadora.
ㅤㅤ— O que te faz pensar que te sinto — gaguejei. A mesma aproximou o corpo do meu enquanto passava os lábios levemente no meu ombro desnudo. Ela havia me despido, me feito pensar em coisa proibidas para o meu interior. Ela era o pecado. A morte. Estava sentada em uma das minhas coxas, sentia a pele quente e lisa desta. Seus dedos se entralaçavam em meu cabelo.
ㅤㅤ Acendeu um cigarro, sorrio vagamente e me soprou fumaça no rosto.   Estava entregue. Revirava os olhos. Gemidos fracos poderiam sair de mim a qualquer momento.
ㅤㅤSilêncio.
ㅤㅤNão houve se quer uma palavra. Minha respiração estava ofegante, mas a dela era, simplesmente, calma.
ㅤ ㅤOs olhos antes rubros se mesclavam, variando de cor mas logo se tornando um azul-celeste divino. Pude admirar muitas outras cores antes desta predominar. Era exatamente isto que deixava-me nauseado. Seus olhos eram o encanto mortal a um pobre mortal.
ㅤㅤ— As janelas de tua alma — gemi.
ㅤ ㅤMal conseguia me dar conta, já estava deitado sobre o chão frio e duro, enquanto olhava o céu estrelado para fora da janela. Sentia seus lábios agora percorrerem meus mamilos fazendo estes enrijecerem e um gemido leve me escapar. Forcei meus olhos a ficarem fechados, ou ele se obrigou por si. Meu corpo se contorcia em suas mãos.
ㅤㅤ— E o que compreendes por tentação? — ela disse em um tom doce.
ㅤㅤO vermelho-sangue inundou seus olhos e desta vez havia uma mulher em minha frente, a criança havia sumido. Os cabelos eram longos, o sorriso o mais lindo que já se pode encontrar. Mesmo com unhas tão afiadas ela acariciava por sobre a minha pele com delicadeza sem deixar marcas.
ㅤ ㅤ— Como posso te satisfazer? — ela sussurrou ao pé do meu ouvido acompanhando uma leve mordiscada em meu lóbulo. Mordisquei o lábio inferior passando a lingua em seguida. Um sorriso malicioso me inundou a face. Sentia um arrepio vindo do centro da minha cabeça percorrer as costas e inundar todo o meu corpo.
ㅤㅤ A cocha dela prendia-me levemente pela cintura, assim como eu segurava-a pela cintura. A intensidade dos olhares aumentava drasticamente, os lábios se tocaram levemente. Após ela arrastar seus lábios para o meu pescoço, escorregando para o ombro mas logo voltando para a curva entre o ombro e o pescoço onde o cheiro de ninguém é igual. Sorriamos.
ㅤㅤPrendi-a sobre meu colo girando nossos corpos para que pudesse dominar — É assim que você pode me satisfazer — sussurrei para ela. Estava de joelhos no chão, as pernas dela entrelaçadas em volta da minha cintura e sua nuca apoiada no sofá.
ㅤㅤEla revirava os olhos, que a esta altura estava de todas as cores imagináveis e inimagináveis. Mordiscava os lábios. Suava. Rebolava levemente. Ela contorcia o corpo e fazia o meu se contorcer.
 ㅤㅤ E com tudo estavamos entregues.
ㅤㅤGemidos. Suor. Olhos Furtacor.

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