Enquanto o mundo parecia girar você
estava ali. Sempre esteve. Criou em mim o pulso firme, o sorriso amargurado, a
caminhada sonolenta e demasiadamente cansativa – aparentemente. E você sempre
esteve ali. No sutil rumo da caminhada. Nos livros velhos e gastos. Na roupa.
No cheiro de mofo e enfim, em tudo. Enquanto eu me debruçava nos livros e
voltava aos estudos você estava ali, sentado na minha poltrona tomando café, de
pernas cruzadas, resmungando sobre o mundo e quiçá tocando violão - o que você
não fazia muito bem.
No dia que surtávamos era tudo
diferente. Você me jogava no sofá, eu te mordia o peito e depois dava beijinhos
pra passar, você me arranhava e depois voltamos a nossas posições de sempre. Eu
na mesa sentado e debruçado sobre os livros e você na poltrona, ou apenas nós
dois no parapeito da janela tomando sorvete com pedaços de morango. Sutilmente éramos
felizes.
Mordo sutilmente o lábio. Vejo-te
passar em frente à TV no meio do meu programa predileto. Você chega tarde e eu
demasiadamente cedo. Tomo dois goles de refrigerante, você ama café. Como bolo
de chocolate e você prefere devorar a nicotina de seus cigarros. E sobre todas
as coisas somos um silêncio abrupto mesmo nas horas mais gritante de nós mesmo.
Somos silêncio após silêncio.
O cachorro da vizinha costuma latir
sempre que ela sai e você vai lá dar comida por baixo da porta enquanto eu levo
meus manuscritos para a editora. É, você fala mais com o cachorro do que
comigo, mas não faz mal. Estou bem assim, estou bem aqui sendo um vazio em
conjunto. Sendo dois.
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