(...) Antes
que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer
ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me
entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente
imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns
silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de “minha
vida”. Outros fragmentos, daquela “outra vida”. De repente cruzadas ali, por
puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre
casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para
que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.
Por
trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me
sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se
armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mau me aconteceria, tinha
certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os
olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e
suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah
você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos,
vagas promessas. (...)
Caio F.
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