sexta-feira, 1 de junho de 2012

Devaneios Trancafiados




... e tranquei o coração, com você dentro, joguei a chave fora. Ainda que sair?
E aguardo ansioso na porta, de pé. Sinto o cheiro do incenso que se debate e reluta contra o ar dentro dos aposentos vazios.  Teu ídolo toca na vitrola logo ali no canto da sala. O colchão está jogado na outra parede com lençóis limpos, almofadas novas. E ainda te espero de pé na porta, constando no relógio de bolso que já me atrasou dois minutos e meio. Não sei, mas a impaciência é grande quando os minutos se tornam horas . Isso sempre ocorre quando te espero, os segundos são demasiadamente longos e nossos momentos parecem tão sorrateiramente efêmeros.
Então não te demoras mais que três minutos de atraso, logo trás esse conforto para dentro de mim. Toda essa confusão. Faz-me tomar um gole, dois, das tuas bebidas mais fortes; teus sorrisos, tuas gargalhadas, teu toque, teus olhos que se debruçam sobre os meus e toma o meu folego com uma facilidade incrível. Consome o meu ser inteiro e respiro a tua pele e dela retiro a essência que preservo tão fundo em mim, tão guardado, para que todas as noites o sono seja leve, seja doce. Seja, até mesmo ele, teu.
Todas às vezes quero poder gravar a tua voz, quero poder escutar você me cantando, me retirando do serio, me forçando a rir com tantas crises de ciúmes consecutivas. Olho-te no fundo dos olhos e quero te sugar inteiro, te guarda em um pontinho, te preservar e te ninar todas as noites. Desejo o teu corpo quente desconcertando o meu, tuas provocações que me corroem em desejo.
Então chegas, nesta noite fria, e me olhas. Tanto tempo faz desde nosso ultimo encontro, mas sei exatamente o estado de cada poro da tua pele, dos teus pelos, do teu sorriso. E recosto a cabeça na porta pra poder te olhar. Quanto tempo faz desde que você chegou? Parecem horas, esses minutos que passamos aqui nos olhando. Selas nossos lábios.
Estou em casa.
Tomo as tuas mãos na minha, aconchego o teu corpo ao meu, que como em um encaixe perfeito de quebra-cabeça, se completa ao meu. Risonho, te faço rodar no ar, dançamos atentamente. Desfiz-nos das roupas, dos sapatos, das barbas e do sono. Dançamos e cantamos, você gira e sorri, me faz caretas e logo pinta com nossos corpos as paredes da sala, do quarto, da cozinha e os limpa no banheiro, em um banho demorado de espuma.
Devaneio.
Sorrio, balançando a cabeça vagarosamente. Me pego olhando pela janela os carros passarem na avenida, me pego desejando você de uma forma tão forte que sinto teu cheiro aqui impregnado nas minhas roupas de cama, na caminha camisa bufenta, nos meus dedos. Ainda consigo lembrar de cada momento desde a última vez que você veio me desejar bons sonhos. As paredes ainda estão impregnadas de ti, eu ainda estou. Que forte você, não? Tão impregnado aqui em mim, mesmo depois de tantos dias.
E continuo olhando, sentindo, sorrindo. Teu reflexo no espelho me abraçando, teus carinhos de boa noite, teu ninar e tua voz doce que rompe meus medos, me injeta força. Tão sorrateiramente me invades todas as vezes que me contas sobre teu dia, quando te irritas, quando escuto a mais linda de todas as risadas. E me tomas, me recrutas. Sou teu e apenas.

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