domingo, 4 de março de 2012

Carne crua



Ainda sinto o teu cheiro impregnado em mim. Teu cheiro de incenso, desse teu quarto cheio de nós. A música ainda chega aos meus ouvidos e permite que todo o meu corpo se apavore diante de teus lábios. Devoras-me por inteiro, assim me olhando nos olhos e me redescobrindo com teus truques violentos em mim. Meus gemidos escapam de nossos lábios, vejo você assim homem meu. E teu vinho derramado em cada umas das curvas minhas. És homem meu, que me bebes e me come em ceia farta. 

Meus dedos não te deixam escapar. Enquanto se contorces apenas com esse clima que paira entre as nossas quatro paredes devoro a tua carne suculenta e macia. Lábios feridos quase sangrados, com gosto de cigarro e vinho. Corpos que gotejam um suor vagaroso, entre olhares fortes e doces beijos. Envolvidos em um só temos a compaixão de sermos escritos nas paredes deste meu quarto quente e abarrotado de memorias. Então somos muito mais que meras memorias, somos corpo suado e devorado. Somos pintura cravada no concreto.

2 comentários:

  1. espero que tenhas razão, Homero!
    e oh, adoro este texto

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  2. Como não poderia ter sido menos
    envolvente do que descreves, sinto-me
    enlaçada nesse romantismo secreto,
    boêmio e ludibriante que foi.

    Salvas-te minha noite,
    com essas suculentas palavras.

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