terça-feira, 8 de maio de 2012

Menina-bonita-bordada-em-flor











“Menina bonita bordada de flor
Eu vi primeiro
Todo encanto dessa moça
Todo encanto dessa moça
(Marcelo Camelo)












Para Jessica do Vale


Ela vai assim caminhando com o cigarro na mão, que como incenso lhe permite misturar ao perfume um cheiro bom. Os cabelos aloirados esvoaçam no tempo enquanto o sorriso encantador permite que os batuques desse antigo Recife lhe rodeie para os pés descalços e o corpo malemolente dance e encante os viventes.
Entre tropeços, pois não para de dançar, ela se deixa rodear por esses boêmios amigos que sabem animar como ninguém. Esses boêmios ao qual escolheu a dedo cada um.
Ele está ali sentando esperando-a para aninharem os corpos. Sentado, admirando, sorrindo ao ver aquele leve sorriso na face dela. E neste fim de tarde de domingo ela apenas dança para ele, dança para o Chico da moeda e para si. As ruas desertas, pois tarde de domingo no antigo Recife costumam ser vazia – dependendo do seu conhecimento sobre a solidão    são despertadas pelos sussurros de seu corpo e pelo perfume que impregna eles. Queima, esvoaça e se desmancha no ar como incenso. Um último olá aos amigos e um último cigarro para a flor.
Desde um último instante nunca se vira tão maravilhada com o mundo. A mulher, que no fundo vai exalar sempre a essência de uma menina, sonhou com os passeios de skate, a abertura do baú e com os olhos do amado – amado Romeu rebelde.
 O vento lhe cobre de beijos e as ruas levam-na para longe de tudo. Lembrou que a sua paixão estava no pescoço e registou o vestido rodado, os pés descalço no chão, o batom vermelho, o mangue, as artes nas paredes e o pôr-do-sol que não há mais bonito que nesse tal de hellcife.
Como quem não quer nada, de um prédio tão próximo alguém sussurra: “Vai menina, te banha de mar e lama. Vai flor, me ensina a nadar.” E no Manguebeat ela se dispõe a girar, sorrir, cantar, fotografar. Entre lama e mar ela banha o desejo de apenas sorrir. Liberdade que lhe grita na mente do ser. Batuque de maracatu que ela dança e se liberta.
Essa noite não esperava dormir preenchida pelo que lhe suga a alma. Seus devaneios eram demasiados para que ele pudesse suprir. Nesta noite não havia vinho, rosas, chocolate e gruta molhada. Essa noite apenas cabia cigarros, cervejas, boêmios, sorrisos e fotografia. Além do Chico da moeda é claro.
Flor que recita nos ventos poesias e aos homens um desejo de lhe tomar com sua, entretanto, Julieta ama o Romeu. Pertence. Aninha. Deseja. Uma cerveja acalma os pés e uns braços sossegam a alma. Nada permanente.


2 comentários:

  1. Simplismente Jessica do Vale!! Poetisa, Confidente, companheira, Admirável. Grande mulher!

    Viste-nos http://aspirantesapoetasurbanos.blogspot.com.br/

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  2. Fico inteiramente grata por tão belas palavras, meu amigo. Vejo então, que me conheces tão bem, quanto eu mesma me conheço - ou penso me conhecer. De tão pouco contato que temos, consegues descrever-me clara e extritamente. Das vestes ao balanço que o corpo me trás nas ruas do novo|velho Recife Antigo; da bebida que embriaga-me ao amor que preenche-me qualquer vazio. Romeu e Julieta do século XXI, possamos afirmar. Sou grata por tuas palavras.

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